domingo, 13 de junho de 2010

Confrontando a Razão

Título: Confrontando a Razão

Autores: Alaor Borges Jr., Dermeval Carinhana Jr, Cairbar Schutel (espírito)

Editora: Mythos

Categoria: estudo

Edição: primeira (2010)

Proposta:
Apresentação de elementos relacionados a racionalidade para aceitação da proposta espírita. E análise do processo mediúnico passando pela identificação do espírito-autor.

Formato:
Tamanho médio para uma leitura rápida de aproximadamente 4 horas. Contém 40 pequenos capítulos e em cada um deles há um pequeno artigo do autor espiritual seguido de uma análise do autor "terreno". No final do livro há uma pequena biografia do autor espiritual e um diálogo deste com o autor "terreno" produzido em um outro ambiente, por meio de um outro médium.

Linguagem:
O autor espiritual usa uma linguagem obscura com palavras e construções de frases pouco comuns. Por sua vez, o autor das análises usa uma linguagem simples, direta, e, por isso, facilmente compreensível.

Avaliação:
O que mais merece ser destacado neste livro é a proposta de se fazer a análise de uma obra psicografada. Isto representa um verdadeiro resgate do exemplo dado pelo mestre Kardec na elaboração de seus livros e seus artigos na Revista Espírita. Dessa forma, o processo mediúnico pode ser melhor compreendido e a mensagem transmitida pode ser melhor aproveitada.

E na presente obra as análises representam mais do que simples comentários. Elas têm a qualidade de extrair a essência da mensagem e desenvolvê-la de tal forma a oferecer ao leitor uma visão mais abrangente e equilibrada dos pontos analisados.

É interessante que as análises se mostram mesmo mais equilibradas do que os próprios textos do autor espiritual. E chegam ao ponto de serem até discordantes, sem contudo ser desrespeitoso com o autor espiritual.

Ao longo do livro, alguns temas específicos aparecem mais de uma vez tornando a leitura um pouco monótona, embora o "analista" perceba acertadamente esta duplicidade e faz apenas breves referências a capítulos anteriores. De qualquer forma, consegue encontrar novos aspectos ainda não levantados e faz de um limão uma verdadeira limonada.

Vale ressaltar ainda a qualidade e o bom senso das análises que, apoiadas sobre os textos de Kardec, representam verdadeira extensão do pensamento kardequiano. São usadas, até mesmo, as analogias com as coisas do cotidiano assim como Kardec costumava fazer. E isto só tem a engrandecer a obra tornando sua leitura muito prazerosa.

Discussão:
Na página 66 o autor escreve que "a história recente do Espiritismo tem registrado episódios nos quais alguns espíritas têm reagido às críticas com a mesma intolerância de seus agressores, o que, naturalmente, não condiz com o que se espera de pessoas de Bem". Desta afirmativa lembrei das duras críticas feitas a matéria do Chico Xavier na revista SuperInteressante.

No fim da página 127 o autor afirma que "as formas materializadas [são] seus perispíritos recobertos com fluidos que lhes conferem uma condição material temporária". Aparentemente este ponto precisaria ser melhor esclarecido no meio espírita.

Na página 130 o autor reproduz a afirmação de Kardec de que se "reconhece o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más". Por outro lado, há pensadores espíritas, como o jornalista Luiz Signates, que propõem que o espírita seja reconhecido pela prática da caridade ou, como dizia Jesus, pelo muito se amarem.

Na página 154 o autor faz uma observação interessante ao afirmar que "uma comunicação social espírita eficiente, isto é, um processo capaz de estabelecer um diálogo (comunicação) aberto, saudável e didático entre o ambiente espírita em geral e as pessoas (social) é de fundamental importância para que as ideias espíritas deixem as páginas dos livros e penetrem na alma humana".

A análise do penúltimo capítulo é muito boa. Extraí pequeno trecho, na página 159: "Alguns, mais impacientes, não toleram a convivência com as mais absurdas crenças místicas, algumas originadas dentro do próprio ambiente espírita. A esses perguntamos: ora, e não fazemos o mesmo com as ideias deixadas por Jesus de Nazaré? Não temos nós também todas as condições de segui-las em sua pureza original, mas por acreditarmos que somos seres superiores a outros, crenças das mais desprovidas de razão, não cometemos pequenos e grandes atos de violência para com nossos irmãos?"

Um comentário:

  1. Caro amigo Vital,

    Como sempre, é com honra e carinho que recebo suas análises.

    Apreciar a obra de outras pessoas com a mesma seriedade, responsabilidade e carinho com que seus próprios autores as produziram é tarefa das mais importantes. Quando, de fato, alguém se propõe a isso, deixamos de lado os detalhes sem importância, que geram apenas ruídos de comunicação, e focamos naquilo que verdadeiramente importa: o conteúdo das obras.

    E é exatamente isso que cada vez mais esperamos colher neste blog que, a passos largos, vai se tornando uma referência para muitos companheiros.

    Particularmente, fico muitíssimo feliz pelo companheiro ter apontado essa característica, a análise crítica da obra combinada ao respeito por seu autor, no livro em apreciação. De fato, essa foi sempre a primeira de nossas preocupações.

    Gostaria, por fim, de fazer um breve comentário sobre como reconhecer o verdadeiro espírita ou, de maneira equivalente como proposto por Kardec, o homem de bem. A caridade exterior, seja ela material, seja ela na forma de carinhos e gentilezas, sempre será um importante referencial para alguns. Porém, ela está longe de representar as grandes, e anônimas, conquistas do espírito humano. Se para algumas pessoas, já conscientes de sua condição de seres criados para uma convivência equilibrada e saudável, as práticas exteriores de doações, carinho e respeito já não mais representam um obstáculo, para muitos outros o esforço empregado para manter-se apenas em silêncio em uma discussão consiste em um feito extraordinário, especialmente quando se leva em consideração seu amadurecimento no curso das diferentes existências. Uma vez que só é possível mudar aquilo que se conhece, o conhecimento de si próprio é a chave desse processo. Em quaisquer situações, é o desejo do bem estar do próximo que deve ser avaliado, e não apenas a forma com que ele é exteriorizado. De maneira simbólica, mas não menos consistente, é, pois, para o coração humano que devemos voltar nossas atenções a fim de colhermos bons exemplos a serem seguidos, ou, como afirmou Jesus, mirar naqueles que muito procuram amar.
    Meu abraço e conte sempre conosco!

    Dermeval

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