quinta-feira, 22 de abril de 2010

Como nasce um Centro Espírita

Título: Ponto de Luz: Como nasce um Centro Espírita

Autor: Carlos Alberto Garcia, Dermeval Carinhana Jr, Silvestre (espírito)

Editora: Mythos

Categoria: romance

Edição: primeira (2009)

Proposta:
Apresentar a história e os bastidores da formação de um grupo de espíritos que evoluem juntos e se dedicam na construção de um centro espírita.

Formato:
Tamanho médio contendo pouco mais de 200 páginas distribuídas em 31 capítulos e para uma leitura de aproximadamente 8 horas. Após cada capítulo há uma análise com comentários do segundo autor. Há também um índice remissivo no final do livro.

Embora o projeto editorial do livro seja de boa qualidade há uma falha relativamente grave em relação ao título; na capa aparece apenas "Como nasce um Centro Espírita", nos dados de catalogação aparece "Projeto de Luz: como nasce um Centro Espírita", e no cabeçalho das páginas aparece "Projeto Ponto de Luz: como nasce um Centro Espírita".

Linguagem:
A narrativa do romance usa uma linguagem objetiva e clara. Por outro lado, os autores exploram pouco a emoção, e isto torna os diálogos mais ou menos burocráticos. Mas, de qualquer forma, não é o propósito do autor fazer literatura.

Por sua vez, a linguagem das análises ao final de cada capítulo é bem clara e didática revelando boas reflexões. Aqui como na narrativa do romance o Português está impecável, sem ser prolixo e sem ser simplista.

Avaliação:
O grande destaque desta obra são as boas iniciativas de acompanhar a narrativa do romance com análises e reflexões e também de oferecer um índice remissivo. As análises dão uma outra dimensão ao trabalho oferecendo uma visão privilegiada dos autores sobre a narrativa. A partir destas análises é possível acompanhar o raciocínio dos autores e compreender, pelo menos superficialmente, como a obra foi construída.

Além disto, as análises ajudam o leitor a focar sua atenção na essência da narrativa e também em detalhes importantes para o melhor aproveitamento dos conhecimentos acerca do mundo espiritual. Pode contar ainda com referências nas principais obras espíritas que contribuem, assim, para sua credibilidade.

Estas análises representam uma ótima novidade na produção dos romances espíritas e, a meu ver, deveriam ser utilizadas por outros autores. Aliás, só não é novidade porque Kardec já fazia isto nas Conversas Familiares de Além Túmulo publicadas nas edições mensais da Revista Espírita.

O cuidado em empregar um Português correto e claro deve ser louvado. Isto favorece bastante que o leitor não se perca na leitura e nem fique desestimulado a terminar de ler... principalmente por se tratar de uma obra volumosa.

Em toda a obra se observa a naturalidade com que os autores procuram demonstrar a convivência e a sinergia entre os dois planos, material e espiritual. Chegam mesmo a chamar a atenção para experiências relegadas a segundo plano pelo espíritas como o acompanhamento dos espíritos protetores ou a libertação da alma durante o sono físico.

Discussão:
Nas análises do capítulo 5 (e do 14) o autor se remete a Allan Kardec para justificar a necessidade de repouso físico do perispírito. Mas, o mesmo Kardec admite apenas o repouso moral... as manifestações de cansaço e fome seriam apenas ilusões dos espíritos.

Na análise do capítulo 24 o autor afirma que "em nenhum momento, em toda a obra de Allan Kardec, os espíritos superiores utilizaram esses termos [lei de ação e reação, ou causa e efeito], cujos significados podem ser facilmente confundidos com a Lei de Talião ...". Também concordo que a rigidez desta lei tenha que ser abandonada, mas há algumas passagens como, por exemplo, o diálogo 764 no Livro dos Espíritos.

No capítulo 25 há a informação de que quatro personagens desencarnaram no século XIX por volta dos 70 anos. O autor faz uma boa análise crítica avaliando se esta informação poderia ser verdadeira já que a "esperança de vida da Inglaterra do século XIX era muito abaixo disso". Pesquisando na Internet acharam a informação de que na época do desencarne uma parcela da população tinha mais de 70 anos. Com isso a informação seria consistente, mas seria preciso considerar que a probabilidade de que quatro pessoas desencarnem com uma idade bem acima da esperança de vida é muito pequena.

3 comentários:

  1. Meu caro amigo Vital,

    É uma honra contar com sua avaliação que, de fato, é a primeira nesse grau de detalhamento.

    Em especial, ficamos gratos por sua apreciação quanto às análises contidas no livro. Ela constitui um importante indicativo de que a obra está atendendo aos nossos objetivos originais: resgatar a cultura espírita proposta e utilizada por Allan Kardec. Como um profundo estudioso das obras de Kardec, esteja certo da importância de seus comentários para nós.

    Com o objetivo de esclarecer os pontos destacados por você, encaminho alguns comentários, divididos em duas postagens, que poderão ser úteis aos futuros leitores da obra.

    Por fim, registro aqui mais uma vez nosso carinho e reconhecimento pelo seu trabalho em prol da propagação das idéias espíritas. Contaremos sempre com sua colaboração e, naturalmente, conte sempre conosco!

    Um grande abraço dos companheiros de Campinas,

    Dermeval

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    1- Nas análises do capítulo 5 (e do 14) o autor se remete a Allan Kardec para justificar a necessidade de repouso físico do perispírito. Mas, o mesmo Kardec admite apenas o repouso moral... as manifestações de cansaço e fome seriam apenas ilusões dos espíritos.

    ***Comentário*** O cansaço e a fome, de fato, são ilusões para quaisquer espíritos, inclusive para nós, os encarnados, uma vez que o espírito é, em essência, imortal e independente da matéria. No caso dos desencarnados, a origem dessas impressões se encontra nos estímulos provenientes do perispírito que, conforme o grau de "materialidade", pode fornecer ao espírito desencarnado as mesma impressões que o corpo hoje conhecido pela ciência humana como biológico fornece ao espírito encarnado e que, naturalmente, permeia o próprio perispírito. Para uma análise mais profunda do assunto, reforçamos a sugestão de consulta apresentada ao final da análise (Itens 7-10 do Capítulo XV de "A Gênese"), acrescida de o capítulo "Laboratório do Mundo Invisível" de "O Livro dos Médiuns".

    2- Na análise do capítulo 24 o autor afirma que "em nenhum momento, em toda a obra de Allan Kardec, os espíritos superiores utilizaram esses termos [lei de ação e reação, ou causa e efeito], cujos significados podem ser facilmente confundidos com a Lei de Talião ...". Também concordo que a rigidez desta lei tenha que ser abandonada, mas há algumas passagens como, por exemplo, o diálogo 764 no Livro dos Espíritos.

    ***Comentário*** Kardec cita explicitamente a lei de Talião não apenas nesse item, mas em outros pontos de sua obra, como "O Evangelho Segundo o Espiritismo" justamente para apresentar uma releitura desse termo. Na resposta à pergunta 764, esse fato é bastante explícito:
    Tomai cuidado! Muito vos tendes enganado a respeito dessas palavras, como acerca de outras. A pena de talião é a justiça de Deus. É Deus quem a aplica. Todos vós sofreis essa pena a cada instante, pois que sois punidos naquilo em que haveis pecado, nesta existência ou em outra. Aquele que foi causa do sofrimento para seus semelhantes virá a achar-se numa condição em que sofrerá o que tenha feito sofrer. Este o sentido das palavras de Jesus. Mas, não vos disse ele também: Perdoai aos vossos inimigos? E não vos ensinou a pedir a Deus que vos perdoe as ofensas como houverdes vós mesmos perdoado, isto é, na mesma proporção em que houverdes perdoado, compreendei-o bem?”

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  2. 3- No capítulo 25 há a informação de que quatro personagens desencarnaram no século XIX por volta dos 70 anos. O autor faz uma boa análise crítica avaliando se esta informação poderia ser verdadeira já que a "esperança de vida da Inglaterra do século XIX era muito abaixo disso". Pesquisando na Internet acharam a informação de que na época do desencarne uma parcela da população tinha mais de 70 anos. Com isso a informação seria consistente, mas seria preciso considerar que a probabilidade de que quatro pessoas desencarnem com uma idade bem acima da esperança de vida é muito pequena.

    ***Comentário*** Segundo os dados oficiais do Governo Britânico, em uma conta rápida e aproximada, uma pessoa tinha a probabilidade de cerca 0,12% de chegar até os 70 anos na segunda metade do século XIX, uma vez que, para uma população de 23 milhões de habitantes, havia cerca de 28 mil pessoas próxima a essa idade. Dessa forma, a análise passa a ser outra: desse total de idosos de 28 mil pessoas, seria razoável imaginar que quatro delas conviveram em uma encarnação anterior? Do ponto de vista estritamente matemático, não haveria quaisquer impedimentos. Mesmo deixando-se de lado o número total de possibilidades, um número incrivelmente grande contendo 16 zeros, haveria, no mínimo, 7 mil quartetos possíveis (28 mil habitantes divididos em grupos de 4 pessoas), o que mostra a consistência das informações espirituais. Porém, como tal análise seria impossível de ser verificada do ponto de vista material, visto que estamos tratanto de diferentes reencarnações, preferimos manter a mesma opinião registrada em nossa análise, que reproduzimos parcialmente em seguida:

    Contudo, essa confirmação [da população de idosos] não tem senão valor secundário. Em outras palavras, ela não pode ser tomada como prova absoluta de autenticidade, por dois motivos distintos: o primeiro, mais imediato, é que essas informações são de domínio público, de modo que qualquer pessoa, e não apenas um espírito, poderia ter acesso a elas; em segundo lugar, mesmo se tais informações fossem suprimidas da narrativa, em nada ela seria alterada em seu conteúdo moral e filosófico. Porém, os responsáveis pelas obras espíritas devem se precaver quanto aos eventuais erros históricos contidos em suas publicações, pois eles são capazes de causar graves ruídos de comunicação em torno da ideia espírita. Neles, por exemplo, alguns críticos se apoiam para promover ataques ao Espiritismo. Daí a necessidade, quando possível, da verificação da autenticidade das informações prestadas, tal qual foi feita na presente análise.

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  3. Maravilha, Dermeval!

    Fico muito feliz por ter analisado o livro e mais ainda pela recepção à análise. Eu que agradeço a oportunidade e estou certo que outros bons trabalhos virão.

    Abraços a você, ao Carlinhos, e a toda equipe!

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